Um breve prefácio e saudação.

Como seria se um torcedor narrasse um jogo do seu time? E que se pudesse escrevê-lo nas principais manchetes de jornais? Quando isso foi possível o jornal era o principal meio de comunicação, juntamente com o rádio. E lá estava estampado “A Manchete Esportiva”. Estimulado por Nelson Rodrigues, e por minha paixão como torcedor, resolvi retransmitir os relatos de hoje como no passado. Porque quando a história deixar de ser importante para o futebol, não haverá mais torcedores.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O clássico filme preto e branco.



O jogo valia muito mais que três pontos. Era assim, preto no branco: se o Corinthians vencesse podia assumir a liderança, já se o vencedor fosse o Botafogo ajudaria o clube a estar mais perto da vaga para a Libertadores. O Pacaembu, que há 15 anos foi palco da maior glória do time de General Severiano, também era preto e branco como na final de 1995. Pareciam torcedores de um só time, entretanto haviam dois: o preto e o branco. Não haveriam vagas para outras cores. O que era preto em um time era branco no outro. Como um filme clássico, como um clássico do futebol brasileiro.
Logo no início do jogo, a menos de três minutos os donos da casa abrem o placar com um golaço de Bruno César. Deu um branco na defesa do Botafogo. De fato seria goleada. Foi o gol 100 do Corinthians na temporada. A temporada do centenário. Tudo dava certo para o Timão. Até a trave ajudou no chute do uruguaio Loco Abreu, que apareceu sozinho depois do escanteio.
Com o resultado eles estavam pulando para a primeira posição na tabela. A torcida paulista gritava: “Aqui tem um bando de loucos, loucos por ti Corinthians...”. Foi aí que somente um “Louco” resolveu calar o bando. Cruzamento do argentino Herrera na cabeça de Loco Abreu. Gol carioca. Gol do empate. Belíssima jogada Mercosul. Para tristeza botafoguense, Herrera pouco tempo depois recebe seu terceiro cartão amarelo e está fora do grande clássico contra o Flamengo. Foi o cartão amarelo mais negro que a torcida carioca já viu.
 No segundo tempo quem deu o ar da graça foi o Sr. Leandro Pedro Vuaden, juiz da partida. Herrera, do time preto, recebe a bola na grande área e arremata para o gol do time branco. Gol. Era a virada. Bandeira levantada. Impedimento. Era gol legal. Era gol claro.
Os paulistas acordam e vão pra cima. Paulinho entra sozinho na área do Botafogo, abriu-se uma avenida para o corintiano, chance clara de gol. Jeferson faz excelente defesa.
O tempo passa e o empate não era bom para os donos da casa. Pior ainda foi ouvir, na caixa de som da arquibancada, o gol do Fluminense sobre o Avaí, que deixava o tricolor carioca com a primeira colocação isolada. O desespero transformou-se em covardia. Jeferson defende uma bola pelo alto e Elias faz falta, que o Sr. Leandro Vuaden não marca. O goleiro se machucou e jogou a bola para lateral para ser atendido. Ora, um clube centenário, ganhador de títulos no futebol, devolveria a posse de bola ao time botafoguense. O Corinthians não. Jogou como se tivesse um ano, como se acabasse de nascer. Para completar o estrago, o árbitro, no fim da partida, mostra o terceiro cartão amarelo para o zagueiro carioca Antônio Carlos, por solicitar a maca. Está fora do derby contra o rubro-negro carioca. Mais um jogador fora.
              O empate da derrota para os paulistas fazem do time mais ofensivo. Numa descida dessas o ataque corintiano perde a bola no meio-campo e Caio, que havia entrado no lugar de Herrera, avança com a bola. Eram três cariocas e dois paulistas. Era o lance do jogo. Para calar o bando de loucos. Caio resolve encobrir o goleiro Julio César. Erra! Caio não é mais o mesmo do Campeonato Carioca. O jogador amuleto do Fogão mudou da água para o vinho. Do preto para o branco.
Fim da partida e o empate deu finalmente uma cor ao clássico. Aliás uma não, três. O empate da derrota corintiana é tricolor. Nunca o Botafogo usou tantas cores em um jogo. Nunca o Fluminense foi tão.... preto e branco.